terça-feira, 22 de setembro de 2009

O Mundo, dividido em dois.

"A história do pensamento que há uma tentação surpreendente de se dividir o mundo em dois - o mundo real e outro menos real.
Logicamente falando, as disputas furiosas sobre o assunto constituem um absurdo. Tudo que existe é, por assim dizer, real, mas a discussão conserva seu interesse como cenário mais de luta ética do que epistemológica. O que é considerado real é também o que se julga ter valor.
Confrontados com a eclosão dos fenômenos do mundo (bebês nascendo, folhas caindo das árvores, rãs botando ovos, vulcões entrando em erupção, políticos mentindo), os filósofos nos oferecem uma escolha infindável, e obviamente incompatível, de substâncias reais e ideias. Para Tales, a realidade era encontrada na água, o mais importante e irredutível dos elementos. Para Heráclito, no entanto, a realidade era encontrada no fogo. Para Platão, ela estava na alma racional, para Agostinho, em Deus, para Hobbes, no movimento, para Hegel, no Processo do Espírito, para Schopenhauer, na Vontade, para Madame Bovary, no Amor, para Marx, na luta do proletariado pela emancipação...
Estes pensadores naturalmente compreenderam haver outras coisas em jogo no mundo. Eles simplesmente indentificaram suas teorias como estruturais, a mola mestra para a mecânica complexa da história da humanidade.
Mas, não será Madame Bovary uma anomalia nesta lista? Talvez se a considerarmos em seu status de filósofa. Mas sua ética em dividir o mundo em dois é bastante familiar. Como santo Agostinho, seu antecessor, ela escolheu desmarcar as coisas usando o Amor como divisor de águas, embora para ele, fosse Amor destinado ao Homem, não a Deus.
Por outro lado, havia o mundo de bolas brilhantes, papéis de carta na cor bege e olhares significativos, e por outro, a existência insípida e rotineira do homem comum, o tédio da vida doméstica e um marido roncando feito porco, ao seu lado." (Alain de Botton, O Movimento Romântico)
Comum sempre foi para o homem, na maior parte de sua vida viver apenas em um lado desse mundo divido.
Mas caso você concorde com a ideia de real de Bovary, terá que se dedicar na descoberta da intimidade de dois seres e estar sempre disposto a fazer vista grossa para outras conquistas da civilização. Porque amar, para muitos pode ser a razão de viver, mas para outros, o medo de morrer só sem ter alguém do seu lado que testemunhe sua vida!!...

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